O RACIONAMENTO, O SOLO E ÁGUA
*Mauro Ianhez
Os fatos nos mostram que o clima já não caminha conforme os
passos da humanidade. Números demonstram
o quanto já machucamos a natureza e sua resposta vem a cada ano, mais forte e
violenta, que sentimos na pele e,
recentemente, no bolso. O tema ambiental
agora é econômico e social, mas antes era coisa inatingível, de “gente à toa”.
E neste balaio cabem o desmatamento, a erosão dos solos, a poluição atmosférica
- temas até então acadêmicos ou de
visionários marginais.
Estamos vivendo uma nova era de extremos climáticos, mas não
aprendemos ainda a conviver com a nova face da natureza, que, nos últimos três
anos descarrega sua resposta em menos
chuvas e períodos maiores de “veranico”. Não fomos suficientemente espertos
para ler estas respostas, seja por interesses político-eleitoreiros ou por
burocracia – entraves criados por um sistema falido, egoísta e onde o que vale
é o imediatismo. O que nos resta é o racionamento de água, de energia elétrica
e outros mais. Sem planejamento realmente é o que nos resta: Racionamento.
Com planejamento e diálogo com a comunidade, as esferas
governamentais poderão ter uma sobrevida quando propuserem planos de ação que
contemplem um uso racional dos solos rurais e urbanos. Neste ano de 2015, a ONU
propôs o Ano Internacional dos Solos, quando toda a sociedade poderá debater
sobre a importância deste bem finito e essencial à vida. Toda existência humana
é baseada nos solos, que dão estrutura, abrigo e alimento. Além disso, produz a
água, hoje tão necessária. Sim, pois a água da chuva infiltra no solo, que
abastece os mananciais e assim, teremos os reservatórios cheios para as
atividades humanas. Não há outra maneira de guardar a água que desce do céu.
Temos a obrigação gigantesca de preservá-la nos solos ou ficaremos reféns do
clima eternamente. Solos e água são irmãos siameses – aqueles que nascem
grudados. E assim, indissociáveis com solo e água, poderemos fazer frente às
mudanças climáticas, pois um ajuda o outro. Quando há água em quantidade e
qualidade temos o solo manejado corretamente e quando encontramos um solo bem
cuidado (e com cobertura vegetal importantíssima), certamente teremos fontes
hídricas preservadas.
Neste sentido, recuperar solos degradados, melhorando suas
condições físicas e químicas para a produção agropecuária, indiretamente
estaremos otimizando a infiltração de água da chuva com os terraços em nível e
as bacias de captação. Assim se produz água. Assim se garante um futuro mais
promissor, sem novos desmatamentos.
Diz-se que para resolver os mesmos problemas temos que usar
de estratégias diferentes. A falta d’água, os baixos volumes dos reservatórios
para o abastecimento humano e/ou geração de energia elétrica – todos estes
problemas sócio-econômicos só serão minimizados se houver competência em
executar programas de conservação de solo e água, principalmente nas áreas
rurais, não se esquecendo também do xodó da mídia, que é o meio urbano.
É urgente mudar a forma de pensar e agir. Se nos últimos anos
enfrentamos esta crise de maneira errada, ainda temos meios técnicos eficientes
para conviver com as mudanças climáticas e até melhorar a qualidade de vida da
população, sem drama, sem fantasma, mas com ações executáveis para a produção
de água. Façamos um esforço político para isto.
*Mauro Ianhez – Engenheiro Agrônomo (UFV, 1993).
EMATER-MG Paracatu Janeiro/fevereiro
de 2015.