terça-feira, 27 de janeiro de 2015

O RACIONAMENTO, O SOLO E ÁGUA

O RACIONAMENTO, O SOLO E ÁGUA
*Mauro Ianhez
Os fatos nos mostram que o clima já não caminha conforme os passos da humanidade.  Números demonstram o quanto já machucamos a natureza e sua resposta vem a cada ano, mais forte e violenta, que sentimos na pele  e, recentemente, no bolso.  O tema ambiental agora é econômico e social, mas antes era coisa inatingível, de “gente à toa”. E neste balaio cabem o desmatamento, a erosão dos solos, a poluição atmosférica -  temas até então acadêmicos ou de visionários marginais.
Estamos vivendo uma nova era de extremos climáticos, mas não aprendemos ainda a conviver com a nova face da natureza, que, nos últimos três anos descarrega sua  resposta em menos chuvas e períodos maiores de “veranico”. Não fomos suficientemente espertos para ler estas respostas, seja por interesses político-eleitoreiros ou por burocracia – entraves criados por um sistema falido, egoísta e onde o que vale é o imediatismo. O que nos resta é o racionamento de água, de energia elétrica e outros mais. Sem planejamento realmente é o que nos resta: Racionamento.
Com planejamento e diálogo com a comunidade, as esferas governamentais poderão ter uma sobrevida quando propuserem planos de ação que contemplem um uso racional dos solos rurais e urbanos. Neste ano de 2015, a ONU propôs o Ano Internacional dos Solos, quando toda a sociedade poderá debater sobre a importância deste bem finito e essencial à vida. Toda existência humana é baseada nos solos, que dão estrutura, abrigo e alimento. Além disso, produz a água, hoje tão necessária. Sim, pois a água da chuva infiltra no solo, que abastece os mananciais e assim, teremos os reservatórios cheios para as atividades humanas. Não há outra maneira de guardar a água que desce do céu. Temos a obrigação gigantesca de preservá-la nos solos ou ficaremos reféns do clima eternamente. Solos e água são irmãos siameses – aqueles que nascem grudados. E assim, indissociáveis com solo e água, poderemos fazer frente às mudanças climáticas, pois um ajuda o outro. Quando há água em quantidade e qualidade temos o solo manejado corretamente e quando encontramos um solo bem cuidado (e com cobertura vegetal importantíssima), certamente teremos fontes hídricas preservadas.
Neste sentido, recuperar solos degradados, melhorando suas condições físicas e químicas para a produção agropecuária, indiretamente estaremos otimizando a infiltração de água da chuva com os terraços em nível e as bacias de captação. Assim se produz água. Assim se garante um futuro mais promissor, sem novos desmatamentos.
Diz-se que para resolver os mesmos problemas temos que usar de estratégias diferentes. A falta d’água, os baixos volumes dos reservatórios para o abastecimento humano e/ou geração de energia elétrica – todos estes problemas sócio-econômicos só serão minimizados se houver competência em executar programas de conservação de solo e água, principalmente nas áreas rurais, não se esquecendo também do xodó da mídia, que é o meio urbano.
É urgente mudar a forma de pensar e agir. Se nos últimos anos enfrentamos esta crise de maneira errada, ainda temos meios técnicos eficientes para conviver com as mudanças climáticas e até melhorar a qualidade de vida da população, sem drama, sem fantasma, mas com ações executáveis para a produção de água. Façamos um esforço político para isto.
*Mauro Ianhez – Engenheiro Agrônomo (UFV, 1993).

EMATER-MG Paracatu   Janeiro/fevereiro de 2015.